DE VOLTA À INFÂNCIA
As crianças têm necessidade imperiosa de comunicar-se. Quando descobre, então, a fala, é como ganhasse um presente de dimensão sem cálculo. Esse poder, as crianças levarão a última conseqüência. De posse desse poder, as crianças descobrem o mundo interno e externo. Torna-se participante. É preciso testar o alcance do poder adquirido. Tudo se torna palavras sonoras já que perceberam que assim, melhor compreendidos, sua comunicação torna-se eficaz. Todo sentimento torna-se palavras sonoras. Se escrevessem seriam poetas? Aliás, a poesia não se restringe a escrita. Como exemplo os trovadores. Crianças são trovadores que cantam a vida. Os melhores comunicadores são crianças. Mesmo mudas, comunicam-se. E até mudas, por alguma fatalidade daquilo que os adultos chamam de destino, elas produzem comunicação. A criança em sua motricidade é comunicação, em sua essência é comunicação.
Mas quando chega a idade madura, deixamos a fala de lado. Acreditamos que meias palavras ou palavras e meia são suficientes. Deixamos a mobilidade para sermos imóveis na estúpida justificativa de manter a energia. Para não perder a energia, para preservar, para não gastar. Dizem que um ponto já é um conto. Incerto. Outros acreditam que o olhar é tudo, um pequeno gesto. O que nos dá, diferentemente das crianças, é uma preguiça mental ou um descrédito a esse fabuloso instrumento, a voz. A nossa fé diminuta no poder de criação, que somos, é nossa falta de ação. Enfim, adultos não se comunicam como crianças, e são ineficientes, não se comunicam com as crianças. Deve ser por isso que muitos de nós não suportamos os trinados infantis, as canções pueris.
Como é sábio o conhecimento cristão. Só merece o reino quem se assemelha a esses pequeninos. De fato, quanto mais se afasta do poder maravilhoso da infância, mais se perde do fabuloso mistério de ser humano.
Não pode trabalhar com uma criança quem não entende esse maravilhoso universo vivido por elas. Da mesma forma não pode lidar com uma criança quem não a compreende por toda sua completude.
Assim, fica subentendido, que para se ter uma criança ao lado precisa ser como ela, falar como ela, comunicar como ela, viver como ela.
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