sábado, 20 de outubro de 2012

CONFLITOS EM SALA DE AULA

CONFLITOS EM SALA DE AULA







É frequente nas salas de aula acontecer vários conflitos, geradores de brigas, desavenças, inimizades e agressões verbais ou físicas. Acontece porque reconhecêssemos que estamos falando de um espaço onde convivem muitos indivíduos e cada um com suas particularidades, crenças e gostos. É na sala de aula que produz esses encontros, da mesma forma acontece em empresas, escritórios, entre uma mesma categoria profissional e dentro de casa.



Sem entrar no mérito da razão de um lado, da culpabilidade do outro. Sem querer discutir se os conflitos são influenciados pela cultura extramuros ou se os conflitos oriundos das salas de aulas são estopim para as desavenças futuras na sociedade. Precisamos, como cidadãos, reconhecer que nossa fragilidade está realmente aí: nas relações humanas. São essas questões que entravam projetos, que destroem sonhos, que emperram trabalhos, trazendo prejuízo a todos os envolvidos.



Mas na sala de aula, sendo professor, como intervir da melhor forma e apagar a pequena chama acendida de um futuro incêndio?



Em minha sala, por exemplo, procuro fazer a política contra fofoca. Sabemos que as crianças têm por hábito vigiar o comportamento dos colegas, por vários motivos. Creio que como sociedade, temos dado péssimos exemplos a elas. Então, quando uma criança se dirige a mim, como seu professor, para apontar alguma falha do colega, questiono-a se, antes de me informar, teria alertado o colega sobre as faltas. Sei que crianças dos primeiros anos do Ensino Fundamental terão mais dificuldades em compreender minhas intenções, no entanto, as crianças maiores já percebem que poderiam evitar o trabalho se alertassem o amigo ou se, ao menos, ignorassem o problema, caso não fossem atingidas diretamente. Até porque todo bom professor deve estar atento para todos os acontecimentos dentro de sua sala de aula, sendo assim, o aluno pode evitar aborrecimento, pois sabe que o professor já viu e terá que tomar atitude sobre o que viu.



Você poderia estar questionando-me a respeito de minha atitude, mas creio que esses meus atos podem contribuir para que a criança pense em si e em sua relação com todos dentro da sala de aula. Inclusive comigo mesmo. Pois eu também não gostaria de que alunos meus procurassem fora da sala de aula a solução de um problema que eu causei. Por isso, mostro-me sempre disposto a rever até meu próprio comportamento com elas. E digo que, até hoje, tenho tido bons resultados.



Mas se a criança ainda teima em delatar seus companheiros ao professor, ao “tio” e “tia” da creche ou, até mesmo, para os Inspetores de alunos? Para isso tenho o hábito de, antes do aluno denunciar e comentar o fato, chamar a outra parte envolvida para escutar o que se está falando dela. Assim poderei ouvir atentamente os dois lados da questão, perceber padrões de comportamento que me mostre a gravidade da situação. Só após isso, procuro tomar uma atitude, porque é algo que todas as crianças esperam do professor. E se não fizer, perderei mais pontos na minha relação com meus alunos.



Quando o aluno infringe uma regra proposta no começo do ano e avaliada pelos próprios alunos, aproveito a oportunidade para abrir uma assembleia entre eles para pensar no caso, discutir até mesmo as medidas a serem tomadas, como anotar o nome da criança no diário do professor, receber uma advertência por escrito que será encaminhada ao conhecimento do diretor, perder o dia de ajudar o professor a apagar a lousa ou distribuir os trabalhos. Até mesmo ficar de fora dos pequenos prêmios oferecidos pelos trabalhos realizados.



Tento não perder a oportunidade de conversar com meus alunos sobre os nossos próprios comportamentos dentro da sala de aula. Discutimos e tentamos entender tudo que nos afeta e como responder a isso. Esse tipo de comportamento valoriza a afetividade escolar. Ou seja, acreditamos que o sistema afetivo dentro da sala de aula contribui para o sucesso ou não do processo ensino-aprendizagem.



Certa vez, percebi que um garoto, nos seus 10 anos de idade, estava incomodando uma colega de sala, que tem a mesma idade. Muitas vezes a garota chorava, outras vezes buscava revidar os puxões de cabelos e beliscos. Já estava ficando impossível de controlar e, mesmo buscando apaziguar o conflito dos dois, sempre iniciavam a discussão na semana seguinte. Conversando com ambos, separadamente, percebi que o estopim foi o “namoro” da menina com outro colega, de sala diferente. Então percebi que já era algo além da minha sala. Nesses casos, a Gestão, os Coordenadores e toda a Comunidade escolar devem participar, buscando meios de mostrar aos adolescentes, que a maneira que escolheram para solucionar a contenda não era a mais adequada. Nesse momento, todos os profissionais de educação precisam estar preparados para contribuir para o crescimento dos alunos e não agravar mais a situação, correndo o risco de esse estopim estourar no lado de fora do muro, aumentando essa bola de neve que nem sabemos onde vai parar.



Enfim, precisamos estar atentos para esses ínterins, pois a Educação também é responsável pela formação do caráter e da personalidade dos futuros cidadãos. Contribuindo com exemplos salutares poderemos mostrar aos nossos alunos que é possível resolver um conflito com uma boa conversa e acordos mútuos.



Sei também que cada professor tem em sua prática modos diversos do meu para agir quando um conflito surgir em sala de aula, mas gosto sempre de frisar: O diálogo será sempre um bom negócio.



Espero que assim, no futuro, não tenhamos políticos agredindo e sendo agredidos por causa das diferenças de ideias, desejos e posições.



É isso.



DIR

sábado, 13 de outubro de 2012

AFETIVIDADE ESCOLAR

Afetividade Escolar



“para aprender, é mais eficaz uma curiosidade espontânea do que um constrangimento ameaçador” – Santo Agostinho.

         Muitos filósofos e estudiosos (Santo Agostinho, Vigotski, Luria, Paulo Freire, Julio Groppa de Aquino, Miguel Gonzalez Arroyo, Telma Weisz, Sisto, entre outros) têm-se preocupado com a afetividade no processo ensino-aprendizagem. Na sala de aula encontramos reunidas pessoas de diferentes famílias, histórias e, até mesmo, culturas. E a relação entre elas, no ato educacional, provoca reações psicológicas diversas.
         Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia, escreveu:
“Nas minhas relações com os outros, quer não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo ‘conquistá-lo’, não importa a que custo, nem tampouco temo que pretendam ‘conquistar-me’. É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou com elas. (FREIRE, 2002, p.152).
         Seguindo o pressuposto da singularidade em sala de aula, das especificidades de cada um, da heterogeneidade imanente, o educador deve levar em conta que seu trabalho educativo terá bons frutos, quando no planejamento e execução, levar em conta todos esses determinantes.
         O professor, como membro mais experiente dessa relação, deve considerar as circunstâncias que afetam seus alunos e a si mesmo. Entender o sistema afetivo na sala de aula contribui para desenvolver melhor suas aulas, alcançando satisfatoriamente os objetivos propostos.
         Arroyo (2005) discutiu bem o hábito positivista de muitos professores em desconsiderar o lado emotivo e afetivo na educação, pois:
O cognitivismo e cientificismo tão dominantes nas últimas décadas nos currículos, na avaliação, nas didáticas de ensino e na formação dos licenciados criaram na cultura docente a ilusão de que era possível trabalhar mentes incorpóreas solidárias, pairando no vazio biológico e material, social e cultural (Arroyo, 2005, p. 131)        
         A autoestima dos alunos e do professor interfere no processo educativo. Um aluno que crê não ser capaz terá mais dificuldades em aprender do que aquele que gosta e sente-se confiante. Desse modo, desconsiderar os sentidos e significados que o aluno atribui ao objeto de ensino-aprendizagem torna-se um grave erro. De acordo com Weisz:
“Se o professor não sabe nada sobre o que o aluno pensa a respeito do conteúdo que quer que ele aprenda o ensino que oferece não tem ‘com o que dialogar’. Restará a ele atuar como numa brincadeira de cabra-cega, tateando e fazendo sua parte, na esperança de que o outro faça a dele: aprenda (Weisz, 2001, p.42)
         O mesmo ocorre com o professor quando sente insegurança demais para ministrar o curso. Suas concepções sobre metodologia de ensino, sobre sua própria imagem e função contribuem para um bom ou péssimo desenvolvimento da atividade educativa.
         Para evitar tal situação o planejamento docente, acompanhado de estudos constantes, é essencial. Somado a isso, a sensibilidade e a motivação do professor para com o aluno ajuda a transpor barreiras no aprendizado.
         O professor como mediador experiente da relação educacional tem que propor meios para a valorização de todos os membros, independente de suas origens, preferências ou histórico escolar. Do mesmo modo o próprio professor precisa estabelecer base para sua própria valorização e respeito pelos alunos.
         É óbvio que o sistema afetivo não é tão simples assim, como foi descrito acima, pois há outros fatores envolvidos que ultrapassam a sala de aula e atingem além muros das escolas.
         Penso ser uma cadeia de relações que envolve toda comunidade escolar, representantes governamentais e instituições. Mas não é por esse fato que a relação afetiva será prejudicada na sala de aula.
         Assumir compromisso como educador é estar ciente da especificidade do ato educativo. Esse diz respeito à luta pela valorização e desenvolvimento da comunidade humana.
REFERÊNCIAS
AQUINO, J. G. Confrontos na Sala de Aula: uma leitura institucional da relação professor-aluno. São Paulo: Summus, 1996.
ARROYO, M. G. Imagens Quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 2.Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
MARTINS, L. M. A formação social da personalidade do professor: um enfoque vigotskiano. Campinas: Autores Associados, 2007
SISTO, F. F; MARTINELLI, S. C (orgs). Afetividade e dificuldade de aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: Vetor, 2006.
WEISZ T. E SANCHES A. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo. Ática, 2001

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

CARTA A MARTINS 4-10



Penápolis, 04 de outubro de 2012

Querido Martins

            Tenho trabalhado muito. Trabalhei hoje. Isso não seria nada extraordinário se não fosse feriado na cidade onde moro. Penápolis, dia do padroeiro. São Francisco de Assis. Enquanto todos de casa estão em casa, eu, que deveria estar em casa, estou no trabalho. Mas não reclamo não.
            Estou na cidade de Barbosa, distante uns 20 km. Chegamos em 20 minutos, fresquinho no carro da Professora Bruna ou da Professora Juliana ou da Professora Fátima. Então, você pode perguntar: E o seu? Bem, Martins. Ainda não consegui comprar um carro. Talvez seja um pouco de receio e um outro tanto financeiro.  Como essas duas coisas concorrem para eu não comprar, talvez seja por isso que não tenho. Se ao menos tivesse dinheiro, poderia eu ser mais teimoso e enfrentar meus receios. Ou se não tivesse receio, aventurar-me-ia num empréstimo. E de empréstimos nós entendemos, né Martins?
            Hoje, em Penápolis mesmo, eu vi um garoto excepcional sentado no banco traseiro de um carro. Eu estava no banco da frente, do passageiro. Nossos carros em paralelo.
            Olhei e com vergonha não conseguia sustentar meu olhar sobre o menino sorridente. O motorista, um senhor também sorridente, olhou-me e disse:
            _ Ele é minha maior alegria.
            _ Graças a Deus, respondi ainda envergonhado.
            A timidez em mim não sei se era por ser flagrado encarando em demasia o garoto ou se era por ser flagrado evitando meu olhar sobre ele.
            Pois o motorista ainda reafirmou o motivo de sua felicidade antes de partir com o carro e deixar-me só.
            Impossível não ficar envergonhado. Então disse à Bruna, a motorista do carro onde eu estava:
            _ Puxa vida. Lembrei-me do que uma amiga me disse. Que existe pessoas com problemas piores que o meu e ainda mantém sorriso no rosto.
            É claro que para aquele senhor, o jovem não seria um problema, pois deve encarar as dificuldades com leveza e bom humor. Com naturalidade.
            O problema só está na cabeça das pessoas que procuram ou a feiúra está na mente de quem luta para evitar.
            Há pessoas capazes de enxergar soluções em lugar de problemas e beleza em meio a feiúra.
            E eu reclamo tanto que estou sozinho ou angustiado. Deprimido ou cansado. Na verdade agora o termo é envergonhado.
              Obrigado Martins por ser meu amigo

Dir