Autora: Lya Luft
Editora: Record 2008, 6ª Ed. Rio
de Janeiro
Contos Brasileiros
Livro
saboroso, onde se encontram textos de leitura fácil, mas não menos
introspectivos. A introspecção, o pensamento e o não dito, aliás, produz uma unidade
dolorosa entre os 20 contos presentes na obra. Dolorosa porque deixa
transparecer o sofrimento dos personagens nos seus silêncios em meio aos seus
pares.
O silêncio
parece fazer parte da necessidade humana e recebe o mesmo valor da necessidade
de socializar. Perante esse novo mundo agitado e quase esquizofrênico,
mulheres, maridos, crianças, avós, irmãos, filhos dentre outros sofrem a
angústia que nos arrebata profundamente fazendo com que desaparecemos aos
poucos, como se apagado por uma lenta e mordaz borracha, até chegarmos ao fim
que é percebida pelos próximos como uma decisão drástica, loucura ou tragédia.
Pena que há
poucos preocupados com o poder da introspecção. E tenho firme concepção que
nesse livro Lya Luft se aproxima um pouco da dimensão de Clarice Lispector. Não
é uma comparação, porque injusta diante da particularidade e individualidade de
ambas, mas um posicionamento analítico, necessário para se compreender o que
escrevo e penso de “O silêncio dos Amantes” .
Livro que
recomendo sim a leitura, não só como apaixonado por contos introspectivos, mas
porque contribui para a construção do perfil humano brasileiro exposto ao longo
de nossa tradição literária. Literatura sim, porque não faz menção de ser
relato de experiência, apesar do debate entre ficção e autobiografia, mas cria
seres diante de nossas perspectivas que mexem com nosso senso estético. A
estética humana. Porém não há nada de novo nos contos aqui apresentados que não
se tenha discutido por outros autores.
Tenho que
apontar alguns textos. Apesar de impróprio da minha parte, pois eu precisava de
certo distanciamento para fazer uma análise e não ser comovido, mesmo sabendo
que fui comovido e que minha análise é subjetiva.
Então vamos
lá:
“A pedra da
Bruxa” ouviu minhas angústias e solidão. Também estou esperando alguém voltar,
apesar de saber que não voltará. O mais drástico aqui é a consciência da
ausência da fala que poderia mudar o passado, a certeza que a realidade é
imutável apesar do falso desejo e da cruel esperança de que as coisas mudem e,
por fim, a má fadada crença de que, se retornasse a pessoa, as coisas seriam
diferentes. Não será. Ficaremos entre o silêncio e a palavra não dita.
“Bebês no
Sótão” é cruel, sem deixar de ser realista. E os rumores do sótão de nossa
consciência são piores do que imaginamos.
Quase kafkiano
é “O fruto do meu ventre” que é aquela
sensação de invasão deliberada que nos angústia sempre, nós os introspectivos.
Transforma-se em monstro e a humanidade em aberração quando invadem a nossa
zona de conforto.
E, por último
e não menos importante, “O Pássaro”. Conto forte e sem resposta. Angustiante
como os outros que delibera um confronto entre a delicadeza e a dureza da
realidade. Entre a infância e a adultice, entre o que queremos e o que podemos,
entre o que é dito e o que realmente queremos dizer. Acredito que esse conto é
o ápice da coletânea que deveria ser chamado “O Pássaro”. Mas compreendo a
escolha do título atual.
Assim, apesar
dos rodeios, finalizo dizendo que o primeiro livro que li da Lya Luft trouxe-me
expectativas para os próximos.
Por Valdir dos
Santos Lopes
21 de outubro
de 2011.
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