Afetividade Escolar
Por Valdir
Lopes | DIR/valdirfilosofia@hotmail.com
“para aprender, é mais eficaz uma
curiosidade espontânea do que um constrangimento ameaçador” – Santo Agostinho.
Muitos
filósofos e estudiosos (Santo Agostinho, Vigotski, Luria, Paulo Freire, Julio
Groppa de Aquino, Miguel Gonzalez Arroyo, Telma Weisz, Sisto, entre outros)
têm-se preocupado com a afetividade no processo ensino-aprendizagem. Na sala de
aula encontramos reunidas pessoas de diferentes famílias, histórias e, até
mesmo, culturas. E a relação entre elas, no ato educacional, provoca reações
psicológicas diversas.
Paulo
Freire, em Pedagogia da Autonomia, escreveu:
“Nas minhas relações com os outros, quer não
fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da
ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo ‘conquistá-lo’,
não importa a que custo, nem tampouco temo que pretendam ‘conquistar-me’. É no
respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço
e o que digo, que me encontro com eles ou com elas. (FREIRE, 2002, p.152).
Seguindo
o pressuposto da singularidade em sala de aula, das especificidades de cada um,
da heterogeneidade imanente, o educador deve levar em conta que seu trabalho
educativo terá bons frutos, quando no planejamento e execução, levar em conta
todos esses determinantes.
O
professor, como membro mais experiente dessa relação, deve considerar as
circunstâncias que afetam seus alunos e a si mesmo. Entender o sistema afetivo
na sala de aula contribui para desenvolver melhor suas aulas, alcançando
satisfatoriamente os objetivos propostos.
Arroyo
(2005) discutiu bem o hábito positivista de muitos professores em desconsiderar
o lado emotivo e afetivo na educação, pois:
O cognitivismo e cientificismo tão dominantes nas
últimas décadas nos currículos, na avaliação, nas didáticas de ensino e na
formação dos licenciados criaram na cultura docente a ilusão de que era
possível trabalhar mentes incorpóreas solidárias, pairando no vazio biológico e
material, social e cultural (Arroyo, 2005, p. 131)
A
autoestima dos alunos e do professor interfere no processo educativo. Um aluno
que crê não ser capaz terá mais dificuldades em aprender do que aquele que
gosta e sente-se confiante. Desse modo, desconsiderar os sentidos e
significados que o aluno atribui ao objeto de ensino-aprendizagem torna-se um
grave erro. De acordo com Weisz:
“Se o professor não sabe nada sobre o que o aluno
pensa a respeito do conteúdo que quer que ele aprenda o ensino que oferece não
tem ‘com o que dialogar’. Restará a ele atuar como numa brincadeira de
cabra-cega, tateando e fazendo sua parte, na esperança de que o outro faça a
dele: aprenda (Weisz, 2001, p.42)
O
mesmo ocorre com o professor quando sente insegurança demais para ministrar o
curso. Suas concepções sobre metodologia de ensino, sobre sua própria imagem e
função contribuem para um bom ou péssimo desenvolvimento da atividade
educativa.
Para
evitar tal situação o planejamento docente, acompanhado de estudos constantes,
é essencial. Somado a isso, a sensibilidade e a motivação do professor para com
o aluno ajuda a transpor barreiras no aprendizado.
O
professor como mediador experiente da relação educacional tem que propor meios
para a valorização de todos os membros, independente de suas origens,
preferências ou histórico escolar. Do mesmo modo o próprio professor precisa
estabelecer base para sua própria valorização e respeito pelos alunos.
É
óbvio que o sistema afetivo não é tão simples assim, como foi descrito acima,
pois há outros fatores envolvidos que ultrapassam a sala de aula e atingem além
muros das escolas.
Penso
ser uma cadeia de relações que envolve toda comunidade escolar, representantes
governamentais e instituições. Mas não é por esse fato que a relação afetiva
será prejudicada na sala de aula.
Assumir
compromisso como educador é estar ciente da especificidade do ato educativo.
Esse diz respeito à luta pela valorização e desenvolvimento da comunidade
humana.
REFERÊNCIAS
AQUINO, J. G. Confrontos na Sala de Aula: uma
leitura institucional da relação professor-aluno. São Paulo: Summus, 1996.
ARROYO, M. G. Imagens Quebradas: trajetórias e
tempos de alunos e mestres. 2.Ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
MARTINS, L. M. A formação social da personalidade
do professor: um enfoque vigotskiano. Campinas: Autores Associados, 2007
SISTO, F. F; MARTINELLI, S. C (orgs). Afetividade e
dificuldade de aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: Vetor,
2006.
WEISZ T. E SANCHES A. O diálogo entre o ensino e a
aprendizagem. São Paulo. Ática, 2001
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