quinta-feira, 4 de outubro de 2012

CARTA A MARTINS 4-10



Penápolis, 04 de outubro de 2012

Querido Martins

            Tenho trabalhado muito. Trabalhei hoje. Isso não seria nada extraordinário se não fosse feriado na cidade onde moro. Penápolis, dia do padroeiro. São Francisco de Assis. Enquanto todos de casa estão em casa, eu, que deveria estar em casa, estou no trabalho. Mas não reclamo não.
            Estou na cidade de Barbosa, distante uns 20 km. Chegamos em 20 minutos, fresquinho no carro da Professora Bruna ou da Professora Juliana ou da Professora Fátima. Então, você pode perguntar: E o seu? Bem, Martins. Ainda não consegui comprar um carro. Talvez seja um pouco de receio e um outro tanto financeiro.  Como essas duas coisas concorrem para eu não comprar, talvez seja por isso que não tenho. Se ao menos tivesse dinheiro, poderia eu ser mais teimoso e enfrentar meus receios. Ou se não tivesse receio, aventurar-me-ia num empréstimo. E de empréstimos nós entendemos, né Martins?
            Hoje, em Penápolis mesmo, eu vi um garoto excepcional sentado no banco traseiro de um carro. Eu estava no banco da frente, do passageiro. Nossos carros em paralelo.
            Olhei e com vergonha não conseguia sustentar meu olhar sobre o menino sorridente. O motorista, um senhor também sorridente, olhou-me e disse:
            _ Ele é minha maior alegria.
            _ Graças a Deus, respondi ainda envergonhado.
            A timidez em mim não sei se era por ser flagrado encarando em demasia o garoto ou se era por ser flagrado evitando meu olhar sobre ele.
            Pois o motorista ainda reafirmou o motivo de sua felicidade antes de partir com o carro e deixar-me só.
            Impossível não ficar envergonhado. Então disse à Bruna, a motorista do carro onde eu estava:
            _ Puxa vida. Lembrei-me do que uma amiga me disse. Que existe pessoas com problemas piores que o meu e ainda mantém sorriso no rosto.
            É claro que para aquele senhor, o jovem não seria um problema, pois deve encarar as dificuldades com leveza e bom humor. Com naturalidade.
            O problema só está na cabeça das pessoas que procuram ou a feiúra está na mente de quem luta para evitar.
            Há pessoas capazes de enxergar soluções em lugar de problemas e beleza em meio a feiúra.
            E eu reclamo tanto que estou sozinho ou angustiado. Deprimido ou cansado. Na verdade agora o termo é envergonhado.
              Obrigado Martins por ser meu amigo

Dir

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