Acabei de jantar e ando meio angustiado. Acabei de lavar a louça e vi uma estrela cadente, caindo finamente pelo céu escuro. Até seu fogo apagar, evaporar, deixar de existir.
Tenho
medo dos meus sentimentos. Muitas vezes eles tentam dizer algo para mim
e eu não entendo. Sei que não me esforço o suficiente para compreender a
língua deles. Eu deveria estudar mais. Ando tendo muitos pesadelos,
ouvindo barulhos que não existem em meu quarto, o lençol sendo puxado
para debaixo da minha cama, levando meu corpo junto e eu sem forças para
gritar. Sempre quando acontece isso lembro que não falo, que não tenho
vozes. Lembro-me primeiro em chamar pela minha mãe e depois me lembro
que sou mudo.
Também
sou perseguido por sombras. Em todos os momentos solitários de minha
vida sou sobressaltado por um movimento escuso. Tento firmar meus olhos e
não consigo ver. Sei que algo passou por aquele canto e foi tão rápido
que não consegui registrar o que era. Sombras me perseguem e isso está
se tornando corriqueiro.
Quais
serão as mensagens que preciso compreender? Será realmente que eu não
consigo ler? Estou ficando doido? Mas eu já sou esquizofrênico, não sou?
Temo pela minha família, não por mim. Não tenho medo de ir. Tenho medo
de ficar. Ficar é mais doloroso. Não quero ver ninguém partir. E nisso
eu realmente sou egoísta. Eu não quero ficar.
Não
temo o sofrimento, se o sofrimento me levar de imediato. Mas não é esse
o objetivo de todos os sofrimentos. Eles são sádicos e procuram
provocar dor de forma mínima e contínua.
Os
fantasmas continuam me perseguindo. Há sombras em minha casa, apesar de
não ouvi-las mais. Será que além de mudo agora sou surdo? Tenho medo.
Não por mim. Mas tenho medo.
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