A "arte é inútil" e com esse pressuposto, Chico
Buarque nos introduz uma das grandes e pequenas contradições permeadas em suas
composições. “Todo sentimento do mundo” me faz lembrar “Tom Jobim” e sua poética
amorosa. De um homem recatado, decaído, amoroso e querendo ser amado. Mas claro
tudo isso é minha interpretação, até porque a arte é inútil, não há utilidade
social que se tem de imediato e esperado sofrivelmente pelas pessoas no
dia-a-dia. Mas serve para parar num dado momento e pensar naquele encontro que
se teve. Como a arte, o amor, diria eu, também é inútil.
Todo o Sentimento
Chico Buarque
Preciso não dormirAté se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
Cheio de contradições, essa letra me espanta. Isso é poesia
e nenhum professor de literatura me apresentou na sala de aula e em contra
partida conheci Olavo Bilac. Nada contra, mas contrariando as expectativas
pedagógicas, preferiria Chico Buarque. A sonoridade em si é linda de morrer. Um
bailado leve e sereno, carregando você como o mar, todo manhoso, mas também de
uma força de arrebatamento, como os olhos de Capitu. Rápido e manhoso. Eu não
sei o que essa música tem a ver com Paris... talvez a cidade romântica do
mundo... Acho que tem a ver com Penápolis, foi aqui que senti meu primeiro e verdadeiro
amor, ou qualquer outra cidade onde eu conhecesse alguém que me fizesse estar encantado...
Acho que qualquer cidade onde sempre eu tenha a experiência nova de um primeiro
e verdadeiro amor.
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