sábado, 24 de novembro de 2012

Fui ver Sônia

Fui ver Sônia

Penápolis, 23 de Novembro de 2012.
Acabei de chegar do teatro. Fui prestigiar pela segunda vez a adaptação da “Valsa n. 06” de Nelson Rodrigues. Minha amiga Janaina Torciano, sua mãe e irmã Milena Torciano deram-me uma carona de volta. Senão fosse estaria eu por aí rodando as ruas noturnas. Não voltaria antes da meia-noite. Foi bom voltar, pelo menos escrevi um poema “O Poeta Escreveu” e comecei a redigir esse diário.

Bem, agora é 24 de Novembro de 2012 e a equipe de teatro da cidade teve um bom desempenho deixando-me participar, como público, da emoção encarnada no trabalho de cada um. Principalmente da atriz principal desse monólogo: Monica Norte. Não há como ficar descrevendo como foi a peça. Não quero correr o risco de tornar meu diário em uma crítica sobre a dramaturgia. Muito menos quero discorrer meu pretenso conhecimento a respeito do assunto.

Certo de que já havia tomado uma latinha de Crystal e estava seco para tomar um pouco mais. Certo também que a garota que estava sentada na porta do depósito de bebida, pequena, magra, morena, atraiu-me. Não a olhei diretamente, mas senti que podia estar olhando para mim. Não perguntei, nem fiz menção de fazer. Aparvalhado. Saí abrindo a latinha e colocando a minha mão no bolso até sair do horizonte dela. Isso se ela realmente estivesse me vendo. Pois é o que eu realmente queria. Que ela levantasse, fechasse minha passagem, impedindo meus passos, perguntasse meu nome e dissesse que sou atraente e que tem o desejo no momento de me beijar.

Não estou alcoolizado. A “Sonia” é esquizofrênica e talvez somente ela pudesse me compreender. A Sônia com medo de um determinado Paulo. Eu com uma mulher sem nome da minha cabeça. A Sônia que não quer que mexam em suas amígdalas, eu querendo que ela tire das minhas mãos minha cerveja e me leve de volta ao mundo correto e puro dos normais.
Eu sou anormal. Não porque as pessoas pensam assim de mim, mas foi uma escolha que fiz. A cada dia vou aprendendo a não mais dar conta do mundo real. A cada dia o meu mundo vai expandindo até me engolir. E quando ninguém mais existir e só existir aquilo que criei. Então talvez me deixo desfrutar da vaidade da normalidade.


A peça foi boa. Tensa. Como eu esperava. Porque deve deixar todo mundo tenso ver um rosto delicado de uma criança de 15 anos tornar-se uma mulher estranha, louca, desvairada. Veias saiam pelo pescoço e costa das mãos. Os dedos rígidos e o punhal de prata. Além do piano branco, do vestido branco, da boneca que menstrua e de uma igreja... Não, uma torre de uma igreja...Não, era uma cruz, ou um cruzeiro. Tinha uma bengala. Sapatos bem cuidados e pés descalços. Sônia não podia com pés descalços. E nada mais. O desejo do corpo, a falta da memória de uma falta. E que falta cometeu?

Se houver outra eu vou assistir. Talvez beba mais antes. Para estar com Nelson Rodrigues, não importa o que vai beber, que se beba direito. Vale a pena. Bom trabalho. Apesar de que muitos ainda acreditam que o poeta sempre diz aquilo que escreve. Isso é medonho. Pra mim é fatal.

Mas o poeta não pode querer falar exatamente aquilo que escreveu? Pode e deve. Só não está na jurisdição dele determinar o que ele quis dizer.


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

With Me


UM LUGAR ESPECIAL NO INFERNO


23 de novembro de 2012


No momento em que tento acordar, estou ouvindo Taylor Swift. Tem músicas em que escuto umas 5 vezes sem parar. Não é porque quero entender a letra ou decorar a canção. Não sei explicar essa minha mania, apenas gosto de ouvir como um mantra ou algo assim. Na décima reprodução da mesma música eu já estou dentro de mim, profundamente dentro de mim.







Às vezes penso que a minha vida deveria ter uma trilha sonora. E que todos andassem pulando e cantando, mesmo que a mensagem do dia fosse algo terrível de ser dada. Minhas bobagens. Mas no entanto, se eu pudesse andar com fone de ouvido 24 horas por dia, ouvindo as músicas que me embalam, talvez os dias fossem menos insípidos.
A semana não foi difícil, mas um pouco mais mansa, um pouco mais introspectiva, um pouco mais autista. Não deixo de gostar, mas me espanta as coisas que vejo, compreendo nesses dias.  Algumas coisas me deixam profundamente magoado como saber que há diretores escolares e professores que usam cargos políticos para destruir desafetos dentro da escola e não percebem que o mais prejudicado nessa história toda é o aluno, que não tem nada a ver com essa guerrinha. Eu realmente tenho desejo de ser diretor ou coordenador pedagógico, mas Deus permita-me não entrar nessa onda nefasta. Prefiro não subir de cargo se eu tiver que me dobrar aos desejos mesquinhos de um grupo em detrimento dos beneficiários da educação, a própria sociedade.
Acabei de escrever isso no facebook:
Percebi que algumas escolas deixaram de ser humanas. Agora são departamentos burocráticos políticos em prol dos interesses mesquinhos de grupos minoritários. Deus não permita-me subir de cargo se eu tiver que me dobrar a interesses semelhantes.


Um dia em que deixar de ter ideias, de ser idealista, estarei morto.


DIÁRIO DO CAVERNA