sábado, 5 de maio de 2012

BOCA DO INFERNO – ANA MIRANDA


 

BOCA DO INFERNO – ANA MIRANDA

COMPANHIA DAS LETRAS, 1989

SÃO PAULO – SP

 

            Para quem estuda literatura brasileira, logo se lembrará da alcunha “boca do inferno” que nosso poeta Gregório de Matos recebeu devido às suas mordazes sátiras que desnudava a sociedade baiana na década barroca. Pois bem. Ana Miranda, numa admirável arte de contar história, nós faz reviver essa época onde uma sociedade está encurralada com os vícios, corrupções, mando e desmando de um reinado capenga e de um governo de interesses.

            A narrativa se atém a uma rixa antiga entre a família Menezes e a família Ravasco. Famílias importantes, de prestígio e posse na Bahia, disputam poderes e salvaguarda a honra com sangue. Os Ravasco têm um ilustre entre eles. O Padre Antônio Vieira Ravasco, o nosso jesuíta orador, que muito encantou – e encanta – com seus sermões. Gregório de Matos, amigo da família Ravasco, se envolve na contenda e tenta auxiliá-los contra a perseguição cega e desumana do governador geral Antônio de Souza Menezes (o Braço de Prata) e seu Alcaide-Mor, Francisco de Teles de Menezes.

            No meio de perseguições, prisões, torturas, mortes encomendadas, assassínios, prostituição e corrupções, Gregório de Matos se apaixona e esse amor (proibido, pois a sua musa é casada) transforma sua vida, que não era exemplar, numa corrida insana na busca de proteção e solução.

            Bem ambientado, numa descrição magnífica da vida e dos fazeres seiscentistas, a autora nos reporta para um mundo com tanta perfeição que faz crer que lá vivemos, que sentimos verdadeiramente as angustias projetadas e que fazemos parte da conspiração que busca encontrar um equilíbrio numa Bahia incendiária.

            E sobre poesia, oratória, romantismo e uma dose certa de escatologia, lembramos das épocas cavaleiresca da literatura do período medieval como a novela de cavalaria e como os trovadores

            É muito mais que um romance histórico, pois sua base se fundamenta na história colonial brasileira, mas um retrato literário de nossas artes (no sentido estético e no sentido engenhoso da palavra)

            Para quem gosta de aventuras, combates, lutas e sempre fiou na literatura estrangeira, Ana Miranda é um exemplo de que em nosso país os embates são tão inspiradores quantos os de fora.

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