Um pequeno e rápido romance escrito por esse símbolo da Literatura Romântica Brasileira,
José Martiniano de Alencar (1829-1877).
Ao iniciar a leitura, já somos convidados a invadir a correspondência do protagonista a sua prima "A D." Como essa prima, no romance, não é identificada, podemos eu, você e todos os leitores e leitoras identificarmo-nos com ela, pois leremos um relato de um homem em busca de sua preciosa paixão.
O personagem-narrador perde a condução por chegar atrasado cinco minutos à estação. Resolve esperar pela próxima. Embarcado, senta-se ao lado de uma mulher que coberta pela sua vestimenta de seda e diante da pouca luz não podia ser identificada.
Ambos, lado a lado, roçando seus braços, acompanhando o movimento da condução. No entanto ao término da viagem, o aventureiro não consegue identificar a pequena companhia que lhe deixa somente uma singela frase com seu pequeno timbre: "Non ti scordar di me!" E como por um grande encanto (e a estética Romântica sempre tem esses artifícios) nosso herói apaixonado empreenda uma caçada desenfreada.
Começa aí a aventura desse homem que se apaixona por uma sensação e acredita ter encontrado seu amor verdadeiro. Através de busca incessante com pistas escassas, ele vai à procura de sua bem amada. Num conjunto de peripécias muito comum nesse tipo de texto folhetinesco, o rapaz vai encontrando pistas nos bailes e concertos da burguesia carioca, nas viagens entre as cidades fluminenses.
Num conjunto de peripécias, a narrativa, contada em primeira pessoa, vai se desenrolando e o leitor, refém dessa angústia, acompanha o mancebo passional gastando todo o seu dinheiro para satisfazer esse capricho do coração.
O interessante é que a burguesia brasileira da época aqui representada mostra-se realmente despreocupada com a gastança quando está em jogo um forte ideal: "Sinto-me com coragem de sacrificar o meu amor à sua felicidade; mas ao menos deixe-me o consolo de amá-lo" p.17.
Talvez aqui possamos refletir quais eram os desejos burgueses representados por essas figuras simbólicas da narrativa. Os heróis estão acima da realidade vigente e representa um padrão sonhado. Todos os esforços são válidos: "Tinha morto um animal, tinha incomodado um preto velho, tinha atirado às mãos cheias dinheiro, que poderia melhor empregar socorrendo algum infortúnio e cobrindo esta obra de caridade com o nome e a lembrança dela." p. 36
E as imagens presentes no texto, de uma forma muito original, são saborosas e recheadas de metáforas, adjetivos e comparações a moda dessa estética literária: "As árvores, cercadas de névoa, fugiam diante de mim como fantasmas" p.33
É interessante acompanhar a aventura desse homem que até mesmo corre quilômetros a cavalo a ponto de matar o animal de fadiga. Ou viaja de canoa sem leme sobre as águas do Rio, à deriva na esperança que a "Providencia" ajude: "Assim, blasfemando contra Deus e sua obra, sem saber o que fazia nem o que pensava, entreguei-me à Providencia" p. 38
“Cinco minutos” é uma obra delicada a semelhança das novelas de rádio onde o destino procura afastar duas almas gêmeas, mas que a vontade humana e sua superioridade racional contrapõem a qualquer obstáculo: "O homem que não domina os seus sentimentos, é um escravo." p.36
Gosto das imagens produzidas por esse escritor, artifício recorrente da época, dum realismo romântico onde a natureza e os seres contracenam uma pintura heróica e ao mesmo tempo primorosa: "sombras desmaiadas" p.36
"Uma faixa escarlate já se desenhava no horizonte; o oriente foi-se esclarecendo de gradação em gradação, até que deixou ver o disco luminoso do sol" p.39 – Discorde quem quiser mais essa frase, transcrita acima, mostra como a imagem narrativa dessa obra nos convida a admirar um quadro que se completa com a união feliz dos amantes. A semelhança a um conto de fadas não é mera coincidência. Apesar das dores, "Mas não vês que a minha vida é apenas um sopro... um instante que breve terá passado?" p.42, o amor vence afinal (“Oh! Quero viver! Exclamou ela./ .../ Desde esse dia foi pouco a pouco restabelecendo-se, ganhando as forças e a saúde...” p.43
Acho que não há ainda livro que eu não goste, creio que com o tempo, minha experiência vai me mostrando caminhos antes não vistos. Leiam! Aprovo esse saboroso texto. Mas leiam como que tomado de uma fome insaciável. Degustem palavras por palavras.
“A viuvinha” é como uma continuação, então não deixe de seguir esse itinerário, apesar de não ser uma obrigação rígida. Fica para o próximo texto, meu comentário sobre “A viuvinha” de José de Alencar.
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