Originalmente publicado em 13 de agosto de 2012
Texto revisto em 29 de agosto de 2012 para essa publicação
DIR
| valdirfilosofia@hotmail.com
Depois de mais uma aula sobre escravidão, negro, preconceito, racismo e
direitos dos negros afro-descendentes afro-brasileiros, depois de toda sala de
cútis clara falar do que sente ou não sente um negro afro-descendente
afro-brasileiro, depois deles se posicionarem contra ou a favor da cota
universitária para negro afro-descendente afro-brasileiro e do orientador citar
a cor de um aluno negro afro-descendente afro-brasileiro ausente na aula,
percebi que tenho poderes sobre humanos.
Sou invisível.
Creio que poderão julgar que sou visivelmente sensível ao fato de ter a tez
preta. E que por causa desse meu melindre, e somente por causa disso, senti
desconforto, incomodo, chateação ou infelicidade.
L. (aquele monstro) tinha o hábito de caçoar de minha não-sei-o-quê
fragilidade. Dizia que detestava minha autopiedade. Mas é que ninguém me
perguntou o que eu sentia já que era o único negro afro-descendente
afro-brasileiro presente. Talvez por pudor, deles e meu. Deixamos silencioso o
canal comunicativo. Nesse dia interessava-me cruzadinha, para fugir daquele
estado de desconforto. Talvez fosse melhor assim. Talvez L. tivesse razão.
Talvez seja nóia. Talvez escuto demais Legião.
A colega ao lado, ao me ver com cruzadinha, disse: “Que feio!”. E pensei que
feio mesmo era o que eu estava presenciando e sentindo.
Em busca da identidade acabei me perdendo. Por que tenho que ser o “negro”? O
que é “negro”? O que é ser “negro? Por que tenho que ser afro-descendente? O
que é ser afro-descendente?
Chama, alguém, minha madrinha de euro-descendente porque é loura de cútis alva?
Existe américo-descendente? São todos iguais os ásio-descendentes?
Por que afro-brasileiro? Existe afro-paraguaio, afro-argentino ou afro-francês?
Que tal um afro-estadudinense?
Até então, o que passa na minha cabeça é que sou brasileiro como tantos que tem
a pele mais clara ou mais escura. Talvez sejam as formas arredondadas na minha
narina ou no excesso de carne nos meus lábios. Pode ser minhas coxas ou ancas
protuberantes. Por fim, sei que posso encontrar essas características em
pessoas de tez claras e nem por isso são classificadas como negras,
afro-descendentes ou afro-brasileiras.
Quem sabe a lógica não esteja na junção de todas essas características e a pele
escura? E aí se assoma dados verificáveis de números presentes no DNA de cada
indivíduo dissecando-o no projeto genoma para justificar a presença da África
em mim.
Quando nasci era bebê, meu bebê. Depois meu filho, sobrinho, colega, amigo,
aluno, professor, eleitor, empregado, consumidor, paciente. Além de ter sido
nomes, números, letras, códigos até chegar a ser cor.
É essa bestagem da gente classificar para dominar
Eu só queria ser respeitado porque sou. Como uma simples planta é. Como o Sol
é. Como o planeta é. Como o verme é. Não precisamos de predicativos, títulos ou
funções.
Ainda acho que ser reconhecido como brasileiro já é suficiente, mas como a
organização mundial social é sempre dividida de vários dizeres, teorias,
filosofia... Esse complexo mundo da mente que deveria ser simples.
A gente não sabe lidar com as diferenças. Então que eu seja ser humano, já que
todos os seres humanos devem ser respeitados como tal. Ou no mínimo como ser
vivo e deixem-me viver.
Porque
eu apenas sou.
É
isso.
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